Há um mundo lá fora. Um mundo insano. Um mundo mal cuidado. Um mundo onde jovens podem morrer sem que nada seja feito de concreto para mudar as coisas. Infelizmente, nosso país é assim. Uma terra governada por uma corja de corruptos. Um ano se passou desde o incêndio da boate Kiss e os culpados não estão presos. Ninguém foi julgado, nem condenado.O que é triste. O que me faz me sentir pequeno diante da inércia de nossos governantes. Vivemos tempos de desilusão. Estamos abandonados. Nós, os que queremos mudanças, somos uma minoria vista com olhos de incredulidade. Somos alienígenas nadando contra a correnteza. Somos loucos. Somos loucos, alucinados. Porque não gostamos da novela das oito, porque não assistimos ao BBB14, porque condenamos os gastos absurdos com estádios para Copa de 2014.
Sim, somos loucos porque buscamos justiça. Porque não queremos que nossos filhos morram novamente. Porque acreditamos num país melhor, mais justo. Onde quem é culpado é punido, vai para a cadeia e não tem lugar para recursos e tramoias capazes de prolongar processos na Justiça indefinidamente. Somos loucos porque acreditamos que a cadeia é lugar de bandido e não de quem protesta.
Sim, porque o Brasil é assim. Há mais gente na cadeia porque teve a coragem de botar a cara nas ruas e protestar contra as injustiças, contra os abusos e o aumento das passagens de ônibus, do que os responsáveis pelas 242 mortes do dia 27 de Janeiro de 2010. Até quando?
Até quando canções como "Que país é esse?", do Legião Urbana continuarão atuais. Gente, um dia eu quero que músicas como essa deixem de ser atuais. Quero que elas percam o sentido e parem de mostrar o quanto o tempo passa e o país não muda. O país não muda.
Centenas de jovens morrem e nada mudou. O país continua o mesmo. Os políticos continuam roubando, boates continuam funcionando sem alvará do Corpo de Bombeiros. O país continua uma bagunça.
242 jovens morreram e parece que foi em vão. Parece que nada será feito.
Parece que 242 é só mais um número. Como aqueles do impostômetro. Um número que ninguém sabe o que significa exatamente.
Sinceramente. Eu queria que esquecessem os números. Que os canais de televisão parassem de falar que morreram 242 jovens e fossem obrigados a dizer que não foram 242 jovens. Que falassem todos os seus nomes, que contassem os sonhos que foram deixados para trás, que dissessem o quanto todos eles fazem falta.
E, enquanto isso, há uma pergunta que não quer calar. Onde está Elissandro Spohr?. Escondido? Curtindo férias? Não sei. O endereço dele é desconhecido. É bom que ele não apareça porque há muita gene com raiva dele. É bom que ele se esconda.
Só me pergunto se ele, e todos os demais, incluindo os músicos que acenderam os rojões e todos os outros que contribuíram com a tragédia de Santa Maria conseguirão se esconder dentro de si mesmo. Se esconder da culpa, eu digo.
Enfim, eu tenho medo. Tenho medo de que toda essa história não dê em nada. Que jovens continuem morrendo, e que culpados continuem impunes. Tenho medo e tenho muitas dúvidas. Mas uma coisa é certa: A justiça será feita. Porque Deus está vendo tudo.
